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Ninguém alguma vez escreveu ou pintou, esculpiu, modelou, construiu ou inventou senão para sair do inferno. (Antonin Artaud)

Como ouvir e entender música

 









Elis Regina

 




"Eu nasci em Porto Alegre, em 1945, no dia 17 de março, num domingo, às duas e dez da tarde — estragando o café da mamãe, aquele lanche maravilhoso... E eu fui a primeira filha, muito esperada, de um casal de dois anos de vida em comum. Primeira neta e primeira sobrinha de uma família de sete pessoas que se adoravam muitíssimo e resolveram me adotar como filha de todos. Eu achei tudo ótimo, tudo maravilhoso — principalmente o talento comercial do papai, porque ele olhou para mim e deve ter pensado assim: que esta menina quando crescer vai ser cantora. Então um ótimo nome para cantora é Elis Regina. Entende? Porque você sabe, é esquisito, porque eu ia me chamar só Elis. Ele foi me registrar, né? Seu Romeu foi lá e disse: vim registrar a menina, minha filha que nasceu. Qual é o nome? Elis. Mas tem um pequeno problema, meu senhor, porque esse nome serve para pessoas tanto do sexo masculino quanto pro sexo feminino. Então a gente tem que dar um jeito de diferenciar isso aí, porque, se não, vai criar problemas para a criança mais tarde. Aí ele deve ter pensado de novo: vai ser cantora, e Regina vai ficar muito bem ao lado de Elis. E aí ele botou Elis Regina Carvalho Costa."







Carmen Miranda

 




Uma pequena notável
Cantou muito samba
É motivo de carnaval
Pandeiro, camisa listrada
Tornou a baiana internacional
Seu nome corria chão
Na boca de toda gente

Que grilo é esse
Vou embarcar nessa onda
É o Império Serrano que canta
Dando uma de Carmem Miranda

Cai, cai, cai, cai
Quem mandou escorregar
Cai, cai, cai, cai
É melhor se levantar
(Samba Enredo do Império Serrano do Carnaval de 1972)







Noel Rosa

 





Quem é você que não sabe o que diz?
Meu Deus do Céu, que palpite infeliz!
Salve Estácio, Salgueiro, Mangueira,
Oswaldo Cruz e Matriz
Que sempre souberam muito bem
Que a Vila Não quer abafar ninguém,
Só quer mostrar que faz samba também

Fazer poema lá na Vila é um brinquedo
Ao som do samba dança até o arvoredo
Eu já chamei você pra ver
Você não viu porque não quis
Quem é você que não sabe o que diz?

A Vila é uma cidade independente
Que tira samba mas não quer tirar patente
Pra que ligar a quem não sabe
Aonde tem o seu nariz?
Quem é você que não sabe o que diz?
(Palpite infeliz - Samba de Noel Rosa)





Metrópole à Beira-Mar

 








Chega de Saudade

 



... como se não bastassem as pressões de seu pai, Juazeiro estava ficando pequena demais para Joãozinho. Aos dezoito anos, que acabara de completar em junho de 1949, sentia-se preparado para voar longe com sua voz. A primeira escala teria de ser Salvador, aonde ia de vez em quando, de trem, com seu primo Dewilson. A viagem durava 24 horas pela Leste Brasileira, com pernoite em Senhor do Bonfim, e eles levavam bananas para comer no caminho. Nessas idas a passeio à capital limitava-se a flanar pela cidade e a namorar por fora os edifícios das estações de rádio — sem coragem para entrar e dizer que era cantor. Afinal, não sabia a quem procurar. Mas, em Salvador, moravam vários de seus primos importantes, como Jovino, Alípio e Yulo. Quando fosse morar lá, eles o ajudariam na única coisa de que precisava: penetrar numa daquelas estações. Sua voz faria o resto. Nas últimas rodas de violão sob o tamarineiro, assim que decidiu ir embora de Juazeiro, Joãozinho fazia um ar gaiato, abria os braços e, antecipando o que o esperava em Salvador, anunciava para os amigos:
“Champanhe, mulheres e música, aqui vou eu!”
E foi.