Um Pouco de Blues, Jazz, Rock e MPB... Bem, na verdade tem um pouco de tudo, ou melhor dizendo, quase tudo _________________________________________________________________________________________________
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Blues - Comics
1973
Wilson Simonal
Maysa
Chico Buarque - O Poeta
Chico Buarque
Elomar
Elomar Figueira de Mello
Elomar Figueira Mello (Vitória da Conquista, Bahia, 1937). Compositor, violonista e cantor. Filho de Ernesto S. Mello e Eurides Figueira Mello, Elomar nasce na cidade baiana de Vitória da Conquista. A família de fazendeiros vive na zona rural da cidade, onde se educa e tem e seus primeiros contatos com a música, que ocorrem nos cultos religiosos e escutando os cantadores, violeiros e repentistas. Ainda garoto aprende a tocar viola e violão, sem aprovação familiar.
Em 1954 muda-se para Salvador para estudar e compõe algumas canções. Cinco anos mais tarde, ingressa no curso de arquitetura da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Conclui o curso em 1964 e retorna à Vitória da Conquista; vive da arquitetura, e paralelamente mantém uma carreira como artista. Grava seu primeiro compacto em 1968, um disco independente com as faixas autorais "O Violeiro e Canção da Catingueira", e, no ano seguinte, conclui a escrita da primeira ópera, "Auto da Catingueira". No final da década frequenta a Escola de música da UFBA, sem concluir o curso.
Em 1972 grava seu primeiro LP, Das Barrancas do Rio Gavião. Em 1978 grava o segundo disco, nos estúdios da UFBA, Nas Quadradas das Águas Perdidas. A partir de então sua vida artística se estabelece e faz apresentações pelo país. Em 1980 lança em São Paulo o LP Parcelada Malunga em parceria com o pianista erudito Arthur Moreira Lima (1940).
Nos anos 1980 abandona a arquitetura para dedicar-se exclusivamente a música. Em 1981 lança Fantasia Leiga para um Rio Seco, acompanhado da Orquestra Sinfônica da Bahia. No ano seguinte realiza o espetáculo coletivo ConSertão com Arthur Moreira Lima, Paulo Moura (1932-2010) e Heraldo do Monte (1935) e que resulta em disco o homônimo. Grava ainda os discos coletivos Cantoria 1 e 2 (1984 e 1988), com Xangai (1945), Vital Farias (1943) e Geraldo Azevedo (1945) e Concerto Sertanez (1988) com Turíbio Santos (1943), Xangai e seu filho João Omar. Lança os discos de canções "Cartas Catingueiras" (1983) e outros com experiências solistas e sinfônicas como "Auto da Catingueira" (1984), "Sertania" (1985), com Ernst Widmer (1927-1990) e a Orquestra Sinfônica da Universidade Federal da Bahia, Dos Confins do Sertão (1987), gravado na Alemanha, e Elomar em Concerto (1990 - ao vivo).
De temperamento recluso, retorna à vida no sertão e grava Árias Sertânicas (1994) e Cantoria 3 (1994). Mas mantém-se preocupado em compor, registrar e divulgar suas obras. Com esse objetivo organiza em 2007 a fundação Casa dos Carneiros. Dedica-se também a escrever "romances de cavalaria", Sertanílias (2008) e Sertano Visita a Cidade (no prelo). Em 2008, lança Elomar: Cancioneiro, publicação com transcrição das partituras do compositor e que conta com a participação dos músicos Maurício Ribeiro, Hudson Lacerda, Avelar Júnior e Kristoff Silva.
Análise
Trata-se de um compositor cuja formação cultural e musical e seus vínculos com múltiplas experiências e tradições musicais, tanto regional e rural, o colocam numa encruzilhada de onde partem e convergem inúmeros caminhos e alternativas. Sua proposta poética, por exemplo, revela e faz referências permanentes a valores artísticos fundados nas tradições européias, sobretudo, as medievais e ibéricas, assim como ao universo judaico e cristão. Surgem assim em seus poemas cavaleiros, nobres intrépidos, donzelas, princesas, menestréis, castelos, corcéis, cristãos, judeus e valores como honra, coragem e amor. Para narrar esse imenso universo, ele utiliza formas clássicas da cultura erudita como o romance, épicos, autos e antífonas. No entanto, todo esse mundo é filtrado e recriado pelo imaginário rural do sertanejo nordestino. A cultura oral e popular se impõe para contar as histórias do povo humilde do sertão, seus animais, sua natureza, mas sempre recheadas das citações medievais, clássicas e ibéricas. O discurso épico e universal constitui-se para contar as pequenas histórias particulares do seu mundo sertanejo. Assim o cavaleiro intrépido em seu corcel pode ressurgir no Tuin da Lagoa Preta, no Quilimerô, a rainha em "Dona Izabel" e a donzela podem ser "Tiadora", a "Naninha" ou a "Joana flor das Alagoas" entre tantos outros personagens locais e regionais. Sua narrativa procura mostrar o povo do sertão como "um forte", lutador que constrói obras culturais e "um mundo maravilhoso".
Para concretizar essa fusão ele opera evidente transformação na linguagem. Ela se apresenta recheada de arcaísmos, como o latim, com variantes dialetais e neologismos, criando assim um dialeto muito próprio fundado na oralidade sertaneja, à semelhança de Guimarães Rosa (1908-1967). Por isso, a professora Jerusa Pires Ferrreira diz que no seu discurso se "ajuntam céus e terras, crenças e vivências, coisas grandes e pequenas, e se organiza a recriação do grande texto oral, sertanejo, Ibérico e universal. É como se ouvisse um canto de milênios, os gêneros da poesia medieval, do grande relato épico, o mundo misterioso, mais a captação de flagrantes da vida sertaneja". Porém esse mundo e seu "dialeto catingueiro" ou "sertanês" tão singular não é simples de penetrar. Para compreender integralmente aquilo que se diz e se escreve exige muitas vezes glossário como exposto, por exemplo, no disco Nas quadradas das águas perdidas (1978).
Do ponto de vista musical as fusões entre a música erudita e a popular também são evidentes. Ele cria seu próprio projeto armorial. Seu instrumento central é o violão que não assume a postura comum de simplesmente acompanhar a harmonia para o canto. Uma das características de sua obra é o fato dele seguir a mesma linha melódica exposta no canto ou então apresentar pequenas variações em contraponto com a voz. Deste modo, ele realiza a difícil tarefa de ser simultaneamente solista instrumental e intérprete. Certamente o fato de ter formação musical clássica contribui para essa condição solista central do violão e a utilização de timbres, encadeamentos harmônicos, frases típicas deste universo sonoro. E neste caso, sua sonoridade mais uma vez apresenta recordações da cultura ibérica, cuja tradição violonística peculiar é bastante conhecida. Suas pretensões solistas se revelam de maneira aberta pela primeira vez na gravação de Cartas Catingueiras, no qual apresenta 5 peças solos, das 12 que tem registradas. Além dessa produção compôs também óperas (11), antífonas (11), concertos (3) e uma sinfonia. Acontece que essa formação e as informações originárias da música erudita se misturam com várias tradições musicais populares regionais, como dos violeiros, cantadores, repentistas e aquelas presentes das festas religiosas. Mas aparecem também como elementos da música urbana como as serestas, valsas, modinhas e batuques. Isso tudo escutado e cantado no dialeto sertanês, tornando sua obra bastante complexa.
Por fim, todo esse conjunto se vincula a um projeto cultural mais amplo do autor e serve para revelar suas insatisfações com a modernidade. A criação desse universo tão específico repleto de conflitos pretende opor o mundo rural ao urbano, com prevalência do primeiro. Isso significa a preferência pela tradição e a recusa das rupturas incessantes e degenerativas da modernidade. Sua rejeição à cultura contemporânea massificante, em favor de uma cultura clássica e regionalista, se revela tanto na obra e como também no seu modo de vida. Recluso no sitio em sua cidade natal, funda em 2007 a fundação Casa dos Carneiros com objetivo organizar e divulgar sua obra fora do circuito da indústria da cultura e apresentar seu projeto cultural.
Sua obra musical está exposta em 15
discos, a maior parte gravada nos anos 1980, que apresentam essa riqueza e
multiplicidade. Em muitos deles conta com a colaboração de outros artistas,
desde a apresentação de Vinícius de Morais (1913-1980) em Barrancas do Rio
Gavião, como a participação direta de instrumentistas importantes como Heraldo
do Monte, Paulo Moura, Arthur Moreira Lima e Jacques Morelenbaum (1954), e de
músicos como Dércio Marques (1947-2012), Xangai e Geraldo Azevedo. Além disso,
Elomar também é criador de bodes e um de seus animais, o bode Francisco
Orelana, que comia papel e jornal, inspira Henfil (1944-1988) a criar um
personagem homônimo que figura nos cartum Graúna.
Elomar - Campo Branco (Programa EnsaioTV Cultura - 1994)
Ouvir
Elomar é viajar no tempo. É ouvir a sonoridade do português primitivo e que
deitou raízes no linguajar do povo simples do nosso sertão. E é exatamente aí
que reside a originalidade desse menestrel baiano, verdadeiro garimpeiro das
preciosas e ricas pérolas da fala típica de nossos grotões sertanejos. Elomar
Figueira Mello é natural de Vitória da Conquista, onde nasceu em 21 de dezembro
de 1937. Segundo consta do Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira
ele é “cantor. Compositor. Violeiro. Nascido em família tradicional de
fazendeiros da Zona da Mata do Itambé e da região do Mata - de - Cipó, de
Vitória da Conquista, iniciou-se na música ainda criança, acompanhando os
cantos das festas religiosas, a música dos cantadores, violeiros e repentistas
do sertão. Mudou-se para Salvador, onde estudou música e arquitetura. Lá, ainda
adolescente, gostava de ir às feiras para ver os cantadores, os catingueiros,
que eram ridicularizados por falarem de maneira incorreta. Considerando a
importância da cultura do sertão e das comunidades interioranas, decidiu que,
em suas composições, ligadas ao universo rural, prezaria escrever naquela
variação linguística. Retornou para Vitória da Conquista ao terminar os
estudos. Vive por opção na região do semi-árido, no sudoeste da Bahia, onde
divide seu tempo cuidando das duas pequenas fazendas em que cria carneiros e
cabras e, às vezes, um pouco de gado graúdo. A fazenda Casa dos carneiros e a
fazenda Duas passagens. Além
da lida rotineira entre plantios, manutenções e construções, Elomar dedica-se à
criação musical, que o leva a apresentações esporádicas em palcos urbanos de
diversas capitais do país.” Moacir Silveira.